16.4.02

Só amor

Eu não quero mais nada, não quero piedade e nem quero lição de moral, eu só quero sentir um carinho, sentir que alguém, seja quem for, gosta de mim. Não, não fala nada, apenas me abrace e me dedique alguns minutos do seu tempo para me fazer um carinho.
Sabe, eu não resisti a tanta solidão e numa noite em que me julgava solitária demais, onde eu não conseguia mais enxergar nenhuma solução para a minha vida, eu rompi os laços que me prendiam a ela e fui violentamente arrastada para um lugar escuro, mais solitário e triste que o meu quarto. Quantos dias eu fiquei ali eu não tenho a menor idéia, mas podia ver em uma espécie de telão, o sofrimento de minha mãe chorando sob um caixão onde um corpo franzino e sem vida estava colocado. Quanta dor, quanta tristeza, eu pensei que não veria mais nada, que após a morte eu não sofreria, seria apenas o fim...
O pior ainda estava por vir, pois acompanhei o meu corpo dentro daquele caixão e durante dias pude assistir imóvel, o ataque dos vermes a cada parte do meu corpo. Aquele mesmo corpo que um dia despertara a inveja dos rapazes, e principalmente daquele a quem entreguei o meu coração, aquele que depois de conhecer o meu corpo me abandonou e me deixou trancada naquele quarto, morrendo de medo da vida.
Foram dias de agonia e desespero, eu queria morrer novamente, mas como, eu já havia arrancado a minha vida. Amaldiçoei a vida, amaldiçoei aquele que um dia disse que me amava, amaldiçoei a Terra e quando eu ia te amaldiçoar, eu me lembrei da sua figura, Jesus, do seu rosto sereno, dos seus cabelos compridos, e então pela primeira vêz em muito tempo, eu chorei de remorso, eu percebi que havia sido leviana e fraca, que o meu maior tesouro que era a minha vida, eu destrui por nada, por puro medo de viver.
Ao me recordar de Jesus, eu chorei muito e quando percebi, já não estava mais naquele lugar horrível, estava em uma cama muito limpa, num quarto que lembrava um hospital, e cercada por pessoas bonitas que me sorriam.
Eu, nesta noite onde o amor do Cristo me permite falar, eu só peço que não me julguem, apenas me deêm o seu carinho e transmitam a todos quanto puderem falar que a vida é o maior presente que recebemos de Deus, que não existe fuga com a morte, existe apenas a dor, o sofrimento, e um vazio muito grande. Parece que se abre um buraco dentro de nós e que nunca mais vai ter fim, é como um ferimento que nunca para de sangrar.
Por isso, nesta noite eu quero o seu amor, o seu carinho para reconstruir a minha vida, para sentir-me de novo amada pelos filhos do mesmo Pai, pelos meus irmãos, por vocês que me dão nesta noite a oportunidade de falar de amor.
(Mensagem de uma suicída no grupo de Orações do dia 15/04/02)

[meu anjo]

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