17.4.02

Um dia desses estava conversando sobre como as pessoas são estranhas. E isso me fez lembrar disso:
Estava esperando o ônibus quando vi um homem se aproximando. Ele estava mal vestido, parecia apreensivo, ficava se ajeitando todo - principalmente a calça - e vinha em minha direção. Concluí que era um assaltante e fingi ignorar sua chegada. Não deu certo.
- Boa tarde, amigo.
- Opa.
- Eu gostaria de saber a sua opinião.
"Que ladrão educado", pensei.
- Sobre?
- Você acha que a minha calça está pescando?
Incrédulo, olhei para a barra da calça e depois de volta para ele.
- Digo, a bainha, você sabe... ela está curta?
- Olha, sei lá... faz o seguinte. Vai andando, naturalmente, até aquela banca de jornais ali, que eu vejo pra você.
- Ah, obrigado.
O cara foi. - Assim está bom? - Perguntou.
- Agora está muito longe. Vem até esse poste aqui, que dá pra ver melhor.
O cara veio. - E agora?
- Hmmm... olha, faz o quatro aí.
- Ficar de quatro?
- Não, fazer o 4... assim, ó - Demonstrei a posição ao homem. - Agora faça você.
- Meu amigo, que brincadeira é essa?
- Amigo digo eu! Você quer ou não quer saber se a sua calça está pescando?
- Eu quero, mas...
- Então faz logo a droga do 4. - Ordenei a ele. Depois comentei com uma senhora que observava a cena: "É cada um que me aparece..."
Quando olhei de volta, o homem já não estava mais lá. Só consegui vê-lo subindo, às pressas, no ônibus que partia. A barra da calça ia no meio da canela. Sujeito estranho

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