Bush perde apoio republicano
Criticado por correligionários por causa de seu plano de atacar o Iraque, presidente dos EUA reage afirmando que Saddam Hussein é "uma ameaça ao mundo". Entre os que se opõem à ação militar está o ex-secretário de Estado Henry Kissinger
Da Redação - Com agências
O presidente norte-americano, George W. Bush, obcecado por derrubar seu colega Saddam Hussein, não contava com "fogo amigo" dentro de casa. Esta semana, seus aliados do Partido Republicano fizeram duras críticas aos planos militares da Casa Branca contra o Iraque.
Os correligionários de Bush afirmam que a Casa Branca não está preparada para uma ação militar contra o regime de Bagdá. Eles ressaltam também que não existem justificativas consistentes o suficiente para fazê-lo.
Na linha de frente estão o ex-secretário de Estado Henry Kissinger, do governo de Richard Nixon, o senador republicano Chuck Hagel, o líder da Câmara dos Deputados Dick Armey, além de Brent Scowcroft e Lawrence S. Eagelburger - o primeiro foi secretário de Segurança Nacional e ajudou a montar a coalizão internacional que atacou o Iraque na Guerra do Golfo e o segundo, foi secretário de Estado, ambos no governo de Bush pai.
Embora se mostrem favoráveis à destituição de Saddam Hussein, eles alegam que Bush está seguindo uma linha que arrisca deixar de lado seus aliados. Além disso, argumentam que uma ação desse tipo neste momento poderia criar mais instabilidade no Oriente Médio e prejudicar os interesses americanos no exterior.
Segundo os republicanos contrários aos planos de Bush, o governo não conseguiu demonstrar que o Iraque é uma ameaça urgente aos EUA. "Para aqueles de nós que não vêem a invasão como uma questão de fé, mas como uma simples opção política, há um sentimento de que é preciso considerar o que virá depois, e de que se você não está preparado para fazê-lo, então é melhor não fazê-lo", disse um funcionário do governo, envolvido com a política externa de Bush.
O presidente reagiu ontem às críticas, afirmando que atacar o Iraque significa defender os Estados Unidos e a liberdade. "Sou consciente de que existem pessoas muito inteligentes que expressam seus pontos de vista sobre Saddam Hussein e o Iraque. Escuto atentamente, mas ninguém deveria duvidar que esta pessoa (Saddam) engana o mundo, que reprimiu seu próprio povo, que ataca seus vizinhos e quer adquirir armas de destruição em massa", afirmou Bush à imprensa. Para ele, Saddam é uma "ameaça ao mundo".
O presidente acrescentou que utilizará os dados mais recentes dos serviços de informação para tomar uma decisão pensada "sobre os melhores meios para manter o mundo em paz e proteger os Estados Unidos, nossos amigos e nossos aliados".
Richard N. Perle, ex-membro do governo do também republicano Ronald Reagan e um dos principais defensores de um ataque ao Iraque, disse que os argumentos da oposição são equivocados e ingênuos. "Não atacar Saddam depois das declarações já feitas pelo presidente produziria um colapso de confiança no presidente, prejudicando a guerra ao terrorismo", ressaltou.
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EUA punem aliado árabe
Da Redação
Os Estados Unidos estão em posição delicada nas relações com alguns de seus principais aliados no Oriente Médio, o que pode dificultar o sucesso de uma nova campanha militar contra o Iraque. Esta semana, George W. Bush anunciou que não vai ampliar a ajuda anual de US$ 2 bilhões ao Egito porque o país condenou a sete anos de prisão um ativista dos direitos humanos norte-americano. A diplomacia com a Arábia Saudita também ficou estremecida depois que o governo saudita foi acusado de apoiar o terrorismo durante uma reunião no Pentágono no começo do mês.
O presidente egípcio, Hosni Mubarak, deve ficar sem os US$ 150 milhões adicionais que havia pedido a Bush. O motivo é Saad Eddin Ibrahim, 63 anos, militante dos direitos humanos acusado de prejudicar a imagem do Egito no exterior por receber verbas internacionais sem permissão e desviar o uso do dinheiro. O ministro das Relações Exteriores do Egito reagiu com indignação. Ahmed Maher disse que o país não aceita ser pressionado.
A revolta foi maior porque, quando o assunto é justiça internacional, os Estados Unidos são o país que vem adotando a postura mais unilateral. Levaram presos para Guantánamo, sem julgamento prévio, centenas de estrangeiros, inclusive três britânicos. A Justiça norte-americana também não hesita em condenar estrangeiros à pena de morte, como o mexicano Javier Suárez Medina, executado no Texas quarta-feira. Por fim, os Estados Unidos não apóiam o Tribunal Penal Internacional e ainda ameaçam cortar ajuda militar para os países que se recusarem a colaborar com a impunidade de seus soldados.
Na Arábia Saudita, o jornal Al-Ryad, ligado ao governo, pediu que as autoridades revisem suas relações com os Estados Unidos depois que um grupo de parentes das vítimas dos atentados de 11 de setembro decidiu processar três príncipes sauditas por apoiarem a Al-Qaeda. O governo já anunciou que não permitirá o uso de sua base aérea de Prince Sultan num ataque ao Iraque. No entanto, isso não fará muita falta caso os norte-americanos consigam emprestadas as bases de Al-Udeid, no Catar, e Incirlik, na Turquia. Mesmo assim, a coalizão contra Saddam Hussein provavelmente será menor que os 34 países aliados dos Estados Unidos na Guerra do Golfo, em 1991.
Israel quer ataque imediato
O governo de Israel pediu ontem aos Estados Unidos que não cancelem os planos de atacar o Iraque e derrubar o presidente Saddam Hussein. Segundo um porta-voz do primeiro-ministro israelense, Ariel Sharon, os serviços de informação do país têm provas de que o Iraque está produzindo armas biológicas e químicas para atacar Israel. "Qualquer adiamento neste momento só dará mais oportunidade para o Iraque acelerar sua produção de armas de destruição em massa". (AP)
O que eles disseram
"Um ataque ao Iraque neste momento poderia prejudicar seriamente, se não destruir, a campanha global antiterror que construímos"
Brent Scowcroft
Secretário de Segurança Nacional do governo George Bush
"A intervenção militar só deve ser realizada se estamos decididos a manter um esforço sustentado, pelo tempo
que for necessário, para reconstruir e manter um Iraque estável e unido"
Henry Kissinger
Secretário de Estado do governo Richard Nixon
"É possível levar o país à guerra rapidamente, mas não é possível sair de uma guerra com a mesma velocidade.
E o público precisa saber quais são os riscos"
Chuck Hagel
Senador republicano
"A menos que Saddam esteja com o dedo no gatilho em uma arma de destruição em massa, e que os EUA tenham dados claros sobre isso, não vejo porque temos que fazer isso (uma guerra) agora, quando todos os nossos aliados são contra"
Lawrence S. Eagelburger
Secretário de Estado governo George Bush
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19/08/2002 - Mundo - Guerra
EUA sabiam que Iraque usava armas químicas
Ex-agentes de Defesa do governo Reagan revelam que a Casa Branca condenava em público Saddam, mas dava ajuda militar ao país durante a guerra contra o Irã
Da Redação - Com agências
Um programa secreto do governo dos Estados Unidos durante a administração Reagan deu assistência militar ao Iraque quando o país estava em guerra com o Irã, entre 1981 e 1988. Isso ocorreu apesar de a Casa Branca saber que o Iraque usaria armas químicas contra o Irã. A denúncia é do jornal norte-americano The New York Times.
O uso de armas químicas pelo Iraque em seu conflito com o Irã é freqüentemente apontado pelo presidente dos EUA, George W. Bush, como justificativa para implementar uma política mais agressiva contra o governo de Saddam Hussein. Esta semana mesmo, a Conselheira de Segurança, Condoleezza Rice, ligou Saddam à produção de armas de destruição em massa para justificar a mudança de regime naquele país.
De acordo com ex-funcionários da Agência de Inteligência de Defesa (DIA) do governo americano, que concordaram em falar na condição de não serem identificados, o programa foi realizado quando os principais conselheiros do presidente Reagan condenavam publicamente o Iraque pelo uso de gás venenoso na batalha. O então secretário de Estado George P. Schultz, o ex-secretário de Defesa Frank C. Carlucci e o general Colin Powell foram alguns dos assessores de Reagan que criticaram o Iraque.
Durante a guerra na região, os Estados Unidos decidiram que era imperativo que o Irã fosse derrotado, para impedir que o país invadisse importantes estados produtores de petróleo no Golfo Pérsico. Segundo o Times, já era sabido que os EUA ajudaram o Iraque, fornecendo fotos de satélite para que o governo soubesse onde as tropas iranianas estavam. Mas a natureza completa do programa, como foi descrita pelos ex-funcionários da DIA, nunca havia sido revelada.
O secretário de Estado Colin Powell afirmou, através de uma porta-voz, que a descrição do programa feita pelos ex-agentes "está totalmente errada". No entanto, ele se recusou a explicar como funcionava. O secretário de Defesa à época, Frank C. Carlucci, negou a denúncia ao Times. "Eu concordava que o Iraque não devia perder a guerra, mas certamente não tinha conhecimento prévio do uso de armas químicas por parte dele", disse.
Bush debaterá sobre ofensiva
Se o presidente George W. Bush ordenar uma ação militar contra o Iraque, ele explicará claramente sua decisão e as razões para derrubar o líder Saddam Hussein, informou a Casa Branca. O governo dos EUA ainda não fixou um prazo para um ataque militar, reafirmou o porta-voz do presidente, Dan Bartlett.
[Correio Brasiliense]
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