Especialista descrê de vitória
Ex-chefe de inteligência britânica aponta falhas em respostas ao 11 de setembro
Richard Norton-Taylor
The Guardian
LONDRES - Stella Rimington, ex-chefe da agência de inteligência doméstica da Grã-Bretanha (MI5), tem várias críticas a fazer à resposta dos Estados Unidos aos atentados de 11 de setembro do ano passado. A primeira mulher a estar à frente de um dos mais importantes órgãos do serviço secreto britânico diz não ter sido surpreendida pela ação terrorista da rede Al Qaeda.
Rimington afirma que os EUA erraram por não investigar devidamente a organização de Osama Bin Laden e acrescenta que o presidente americano, George Bush, jamais vencerá a guerra contra o terrorismo.
Os comentários de Rimington aparecem no prefácio da nova edição de suas memórias. ''A maior surpresa para mim'', diz ela, referindo-se aos atentados de 11 de setembro, ''não foram os ataques propriamente, mas a reação. Pela reação política, era como se o atentado fosse uma surpresa completa para os governos e as autoridades contra-terroristas de todo o mundo''.
A respeito da CIA, do FBI e de outras agências de inteligência dos Estados Unidos, ela afirma: ''A natureza e a extensão da Al Qaeda parecem ter escapado à observação. Se é verdade que o FBI tinha informação, mesmo vaga, sobre um número considerável de estudantes muçulmanos em cursos de aviação nos EUA, as medidas de segurança nos aeroportos internacionais americanos deveriam ter sido revistas''.
A decisão de Bush de criar um novo departamento de segurança interna ''servirá apenas para criar mais confusão'' nos órgãos de inteligência dos EUA, diz Rimington. Em entrevista exclusiva, ela afirma que as agências internacionais - incluindo o MI5 e o MI6 - podem ter problemas para dividir com o departamento informações consideradas importantes.
A ex-chefe do MI5 afirma que seria injusto culpar as agências de inteligência americanas por não terem obtido informação precisa a respeito dos atentados. É particularmente difícil penetrar na Al Qaeda, acrescenta. Mas Rimington diz que, com paciência, os serviços secretos conseguirão recrutar voluntários.
''Uma guerra contra o terrorismo não pode ser vencida a menos que as causas do terror sejam erradicadas, criando-se um mundo sem injustiças. Mas isso jamais acontecerá'', diz. ''Sempre haverá terrorismo porque os terroristas são relativamente bem-sucedidos em seus propósitos. Conseguem publicidade para suas causas''. E, numa última crítica ao governo Bush, Rimington afirma: ''As ameaças de vingança alimentam ainda mais o ódio, num ciclo sem fim''.
[05/SET/2002]
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