Aprendendo com os mais velhos [Atenção: Post Gigante!]
Meu tio de 90 anos tá hospitalizado há uma semana. Em abril do ano passado foi a festa de 50 anos de casado dele e minha tia (onde tiramos a foto família.2).
Ele tá cm esclerose há um tempo, e piorou muito... Ultimamente ele não tava querendo comer (porque queria morrer), nem queria tomar remédio dizendo que iam envenenar ele (porque não queria morrer). Como tem uma lei que não permite internar uma pessoa consciente sem a autorização dela, e ele não queria ir para o hospital, não levaram-no a canto algum.
Mas há uma semana ele permitiu que o internassem, aí meu tio Celho (filho dele) aproveitou e levou o mais rápido possível.
Quando chegaram no hospital a médica chamou os filhos de irresponsáveis porque não tinham levado ele antes... Meu tio Celho só disse uma coisa: "Se eu trouxesse ele, e, por estar contrariado, ele morresse com ataque cardiáco, a senhora daria o atestado de hóbito?" Ela ficou na dela...
Ele passou uns dias na UTI, chegou muito mal no hospital. Quando melhorou fizeram uma endoscopia nele e viram que ele tá com um tumor no estômago. Enorme! Fizeram uma tumografia computadorizada e constataram que é malígno... Estamos esperando só a horinha dele...
Outro dia ele tava chamando minha mãe, que na verdade é comadre dele... Ela ainda não foi no hospital, vai hoje... Eu não vou... Ele tá todo entubado... Eu prefiro guardar a imagem dele sentado na cadeira de balanço, no terraço da casa dele em Garanhuns.
Muitas vezes eu tava na sala vendo televisão e ele me chamou: "ô Suzana, venha cá conversar comigo!"
Eu adoro conversar com ele... e num tem nada que preste na televisão mesmo... Ele contava as histórias dele, as coisas que ele já viveu... Me dava uns conselhos de como viver bem! Antes da esquemia ele tinha uma memória impressionante... Ele me contou com detalhes de datas, roupas e cabelos (tudo confirmado pela minha tia depois) como ele conheceu minha tia.
Eu não tenho uma memória tão boa, mesmo sendo 70 anos mais nova que ele... Mas vou contar as coisas que lembro sobre essa história...
Ele era dono de uma venda em Garanhuns, solteirão com trita e muitos anos, boemio, adorava viajar, morou em vários Estados brasileiros...
Minha tia era filha de um morador da fazenda do meu avô, a família desse morador era muito educada, gente simples e bem educada, então os (14) filhos deles foram criados juntos com minha mãe e os irmãos dela...
Quando meus avós foram para Garanhuns, essa família também foi... Tia Creusa (a esposa de Eurico, que é o velhinho dodoi) morava na casa com minha família...
Certa vez minha avó foi fazer feira e levou tia Creusa junto... quando foi na venda de Eurico e ele viu tia Creusa se apaixonou... Disse que pensou "Eu vou me casar com essa moça!!". Tratou de conquistá-la... Mas ela era muito tímida, e bem novinha (17 anos)... Sabe o que ele fez? Foi até a casa dos meus avós, e pediu para namorar ela... sem ela saber previamente... Perguntaram se ela queria, e ela disse que sim, então deixaram ela namorar... Quando ela fez 18 anos, casaram.
Minha avó entrou com ela na Igreja... Ela fez questão disso!
Eles tem 9 filhos (3 mulheres e 6 homens) e 10 netos (5 meninos e 5 meninas)... No aniversário de 50 anos de casamento tinha muita gente! E fizeram uma fita de homenagem a eles onde contavam a história toda dos dois (eu ainda não vi essa fita, é muito longa e passaram na festa, mas é muito longa mesmo) e tem depoimentos de amigos e familiares. Os dois são muito queridos pos todos! São felizes, apesar de alguns momentos de tristeza ou difíceis, como quando o filho caçula entre os homens teve paralisia infantil, ou quando uma das filhas se envolveu com péssimas amizades e caiu na gandaia geral, ou agora, que ele tá dodoi e minha tia fez uma angioplastia há pouco tempo e não pode se emocionar...
Eu gosto muito de Eurico, é como se fosse meu avô. Acho que sou muito carete de pessoas idosas perto de mim... Sempre gostei muito de conversar com gente mais velha, sempre têm algo a ensinar para a vida...
Perdi minha avó com 14 anos... Quando nasci só tinha ela (materna) e um avô (paterno) vivos, só que meu avô morava no interior, e só o vi umas 6 vezes na vida... ele morreu quando eu tinha 7/8 anos.
Quando fiquei sem avós adotei a mãe de tia Creusa como vó oficial... Eu já a chamava de vó desde que me entendo por gente... Vovó Macinha (o nome dela era Marcelina) morreu um ano depois da minha avó Regina... E fiquei órfã de avós novamente...
Eu acho que não existe futuro sem passado, por isso dou muito valor ao que os idosos têm a me dizer... Adoraria ter minha avó comigo até hoje, a gente brigava, mas se amava! Antes de morrer, ela disse que eu, Gabi e Lulu éramos as netas prediletas dela...
Nunca chorei pela morte dela... ela sofreu muito antes de morrer, a morte foi um alívio para ela... E até hoje sinto que ela ainda está aqui...
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