Mercado precisa de bons profissionais de comércio exterior
Patricia Bomfim
Capacidade de negociação e bons conhecimentos técnicos são pontos positivos, mas ainda temos de conquistar mercado internacional.
A meta do governo, anunciada pelo ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, é de crescimento das exportações de 10% neste ano, para US$ 66 bilhões (ante US$ 60 bilhões em 2002). De acordo com as estimativas da AEB - Associação de Comércio Exterior do Brasil, a meta é bastante realista.
Desde a abertura da economia na década de 90, a demanda pelo profissional de comércio exterior cresceu no Brasil e a sua profissionalização avançou de forma significativa. Recente levantamento realizado pelo International Survey Research, um dos principais institutos mundiais de pesquisa, mostrou que os funcionários das multinacionais do Brasil são os mais dedicados, seguidos por espanhóis, alemães, canadenses, italianos, norte-americanos e franceses.
"Os brasileiros são bons negociadores e dominam bem a parte burocrática, mas precisam melhorar a política de planejamento e o desempenho como exportador de produtos industrializados", comenta o consultor Paul Levison da Korn Ferry. Para o consultor, o empresariado brasileiro não tem cultura de exportação, exceto as grandes empresas, como Embraer, Sadia, Perdigão e Vale do Rio Doce, que têm grande projeção no mercado internacional.
Xavier define o bom profissional.
O diferencial de um bom profissional, para RICARDO DE ALMEIDA PRADO XAVIER, presidente da Manager, é ter conhecimento e sensibilidade para negociar com culturas diferentes. "Cada tipo de negociação tem características distintas. O americano, por exemplo, é rápido, objetivo e valoriza resultados em curto prazo, enquanto o japonês só decide em colegiado, levando mais tempo para dar uma resposta", compara.
PEDRO DALARI, coordenador do Curso de Relações Internacionais da FMU e professor de Direito Internacional e Relações Internacionais na USP - Universidade de São Paulo, avalia que, embora o profissional de relações internacionais não tenha as disciplinas técnicas e operacionais do comércio internacional, ele está sendo muito requisitado para atuar no campo do comércio exterior. "Isso se deve à boa formação nas áreas Jurídica e de Ciências Sociais, possibilitando uma visão mais abrangente do cenário internacional", explica.
Questão de sobrevivência
A falta de capacitação gerencial é responsável por 17,2% das dificuldades internas em planejamento e implementação de investimentos no exterior, segundo recente pesquisa divulgada pelo BNDES - Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social. Outros pontos mais graves apontados são a falta de informações, trato com fornecedores externos e carência de fundos próprios e garantias dos bancos, conforme levantamento feito pela Funcex - Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior.
Para Luiz Martins Garcia, consultor da Aduaneiras na área de Exportação e professor de Sistemática do Comércio Exterior, a demanda pelo profissional de comércio exterior é cada vez maior, mas é necessário se preparar antes de se oferecer. "O perfil do profissional procurado no mercado deve dominar pelo menos os idiomas português, inglês e espanhol, ter noções de custos e administração financeira e habilidade em comercialização, marketing e logística. Além de estar sempre freqüentando cursos voltados para a área."
Aos 40 anos, Vera Baldacci, que acaba de abrir uma assessoria e consultoria de comércio internacional, a VB Export and Import, e tem experiência de 20 anos em grandes empresas, como Petrobrás, Arisco e Unilever, está fazendo MBA em Comércio Internacional na USP. "Com a globalização, senti que preciso atualizar e reciclar meus conhecimentos", conta.
Depoimentos
Vale a pena também conhecer a breve história de alguns outros personagens que escolheram a carreira de Comércio Exterior. A seguir, os depoimentos:
Carlos Augusto Rosa, gerente de Exportação da São Paulo Alpargatas
No primeiro ano da Faculdade de Ciências Econômicas no Ensino Superior de São Caetano do Sul (Imes), foi transferido para o setor de Exportação da empresa por ter inglês fluente. Sua queda para a área Comercial em Exportação logo o levou a gerente de Exportação. Seu trabalho é abrir e desenvolver mercados para os produtos da companhia. Em suas visitas comerciais, Carlos já conheceu a América Latina, Caribe, América do Norte, Europa, Ásia e Oceania. "Não há tédio na nossa profissão, além de poder viajar o mundo e conhecer outras culturas", comenta Carlos.
Dennys Monteiro, consultor da Asap
"A exportação é uma nova fonte de receita, se a empresa está no momento de buscar outros mercados. A Ambev cresceu 38% fora do País."
"De cinco a dez anos, há uma demanda maior pelo profissional de comércio exterior. Se o mercado continuar crescendo, a demanda deve aumentar. O Agribusiness é a área mais movimentada com muitas commodities a negociar."
Marc Burbridge, coordenador do Curso de Técnica de Negociação da BSP - Business School São Paulo
"As companhias estão dando atenção especial para a área de Comércio Exterior e para o profissional especializado. Os brasileiros estão melhorando, mas a quantidade de pessoas preparadas na área não pode ser dobrada rapidamente. Por isso muitos profissionais ainda têm deficiências. O primeiro passo na formação é saber inglês, a língua global. O contato com o exterior também é essencial. O ideal é que o profissional viaje, de férias mesmo, para conhecer outras culturas.
Aí é que está o pulo do gato: entender outras culturas. Regras de importação e exportação são relativamente fáceis de aprender. Como todo latino, o brasileiro comunica-se e é de fácil relacionamento. Mas precisa de mais disciplina, sendo pontual nas reuniões e ter mais clareza e precisão na escrita.
O brasileiro é preparado para se comunicar com o americano e o europeu, mas é falho ao se relacionar com os vizinhos latinos.
Outro ponto em que devemos melhorar é na negociação em equipe, na qual os japoneses são mestres. Eles vão muito afinados para uma reunião e somente um, que não é o chefe, fala."
[Revista Integração]
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