18.2.03

Jogo do contente
Otimismo prolonga a vida

Por Maria da Luz Soares

Não precisa ser Pollyanna, aquela menina capaz de ficar feliz até nos piores momentos. Mas o jogo do contente pode ajudar a prolongar a vida. A constatação é de pesquisadores norte-americanos e encontra eco também no Brasil. Especialista diz que o envelhecimento é mais difícil para aquelas pessoas que não enxergam o lado bom das coisas. É preciso aprender a dosar as variações de humor.
A lógica é simples. Segundo a psicanalista Maria Cristina Reis Amendoeira, especialista em psicogeriatria, os efeitos da disposição de espírito que leva o indivíduo a encarar tudo pelo lado negativo e a esperar de tudo o pior afetam o momento presente. Mas é na velhice que o pessimismo mostra suas consequências mais perversas. "As pessoas sofrem mais, guardam mais mágoas, são mais solitárias e têm mais queixas de saúde", afirma.

A tendência à depressão e a diversos outros problemas não é bem uma novidade. Diversos estudos já fizeram essa associação. Mas ao comparar as avaliações de personalidade de 447 pessoas atendidas em consultas de rotina na Clínica Mayo, em Rochester (Minnesota), na década de 60, e uma nova avaliação 30 anos depois, a equipe de Toshihiko Maruta concluiu que os pessimistas podem ter uma expectativa de vida menor do que as pessoas que têm atitudes e pensamentos positivos.

Para Maria Cristina, não é apenas o fato de viver menos que está em jogo, mas a qualidade da vida que se levará depois de anos de cara enfezada. "Pessoas que agem movidas pelo pessimismo apresentam maior dificuldade para lidar com as limitações naturais do envelhecimento. Com isso, elas vão adoecer mais", ressalta.

Não vale chorar, então? "Não é bem assim. É da natureza humana a modulação. Os indivíduos têm variações normais de humor. Deve haver equilíbrio entre alegria e tristeza. A falta de modulação é que acaba adoecendo emocionalmente a pessoa", pondera a médica. Segundo ela, o problema está nos extremos. "O pessimismo pode comprometer a capacidade do indivíduo de superar tristezas. Mas o otimismo exagerado também não é normal, pois não permite que as pessoas vivenciem perdas e lutos, o que é absolutamente necessário", conclui.
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